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Deputada de MT repudia decisão sobre "estupro culposo"

Foto: G1MT

A única deputada estadual de Mato Grosso se manifestou contra a decisão que absolveu o empresário André de Camargo Aranha, acusado pela blogueira Mariana Ferrer de estupro em Santa Catarina, em 2018. O julgamento aconteceu nessa terça-feira (3).

Janaína Riva afirma em post nas redes sociais que a decisão é um retrocesso na luta contra a violência sexual e a abertura de jurisprudência para inocentar outros estupradores.

A deputada federal por Mato Grosso, professora Rosa Neide, também se manifestou contra a decisão. Ela publicou uma imagem em que está desenhado a diferença do que é estupro e do que não é.

A deputada federal por Mato Grosso, professora Rosa Neide, também se manifestou contra a decisão. Ela publicou uma imagem em que está desenhado a diferença do que é estupro e do que não é.

O inquérito policial sobre o caso concluiu que o empresário havia cometido estupro de vulnerável, quando a vítima não tem condições de oferecer resistência. O Ministério Público denunciou o empresário à Justiça.

Durante o processo, o promotor do caso foi transferido para uma outra promotoria e o entendimento do novo promotor foi o de que o empresário não teria como saber que Mariana não estava em condições de dar consentimento à relação sexual, não existindo, assim, o dolo, a intenção de estuprar. Essa conclusão do promotor está sendo chamada de "estupro culposo".

“É a abertura para inocentar outros estupradores por 'estupro culposo', mesmo que essa tipificação penal nem exista. Me sinto triste, envergonhada pela vítima. [Mari] foi humilhada por um advogado, que colocou em xeque a todo instante a conduta moral dela, numa audiência que deveria ser julgamento do seu estuprador”, diz Janaína Riva.

Na sentença, o juiz Rudson Marcos concluiu que não havia provas suficientes para a condenação - só a palavra da vítima - e que, na dúvida, preferia absolver o réu. A tese de um estupro sem dolo causou espanto, assim como a atuação agressiva do advogado do empresário nas audiências de instrução do processo. 

O caso voltou à tona nesta terça-feira (3) depois que o site The Intercept Brasil publicou o vídeo de uma audiência do caso em que o advogado de defesa, Cláudio Gastão da Rosa Filho, exibe fotos sensuais feitas por Mariana Ferrer quando era modelo profissional, definindo-as como "ginecológicas"; ele afirma ainda que "jamais teria uma filha" do "nível" de Mariana e, ao vê-la chorar, diz: Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essa lábia de crocodilo.

É possível ver, no vídeo da audiência, que a jovem reclamou do interrogatório para o juiz.

“Excelentíssimo, eu estou implorando por respeito, nem os acusados são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, diz ela.

O juiz avisa Mariana que vai parar a gravação - a audiência foi feita por vídeoconferência - para que ela possa tomar água e pede para o advogado manter um “bom nível”.

A defesa de Mariana Ferrer repudiou a sentença do Poder Judiciário catarinense e reforçou que só a vítima pode afirmar se houve ou não consentimento, não o promotor ou o juiz.

A Corregedoria Nacional de Justiça abriu investigação sobre a conduta do juiz Rudson Marcos durante audiência no processo.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) declarou que manifesta-se em veemente repúdio ao termo "estupro culposo" e que vai acompanhar os desdobramentos dos recursos apresentados pela vítima.

O Ministério disse ainda que acompanha o caso desde 2019 e que já enviou ofícios ao Conselho Nacional de Justiça, ao Conselho Nacional do Ministério público, à OAB e ao Corregedor-Geral do Ministério Público de Santa Catarina.

Em 9 de outubro, a Corregedoria Nacional do Ministério Público instaurou reclamação disciplinar para apurar supostas irregularidades da atuação do membro do Ministério Público do Estado de Santa Catarina. A reclamação foi instaurada com base em representação feita pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Texto: G1/MT