Saúde

“Doentes graves se acumulam rapidamente e remédios acabam”

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O médico infectologista Abdon Salam Khaled Karhawl admitiu que Mato Grosso padece com a falta de medicamentos para tratar pacientes internados em estado grave com a Covid-19 (novo coronavírus).

Nesta semana, o Conselho Regional de Medicina do Estado tornou pública denúncias de médicos que estão na linha de frente do combate à doença dando conta da falta de medicações usadas para sedação de pacientes em coma ou intubados.

O CRM-MT recomendou, inclusive, que hospitais privados suspendam a realização de cirurgias eletivas de modo a não agravar ainda mais a situação.

“Infelizmente essa situação é real. Estamos sofrendo com pandemia de maneira absurda. Todos tem acompanhado a progressão da pandemia mundo inteiro. E não seria diferente em Mato Grosso. E esse Impacto está sendo muito grande para nós. Está se esgotando, colapsando progressivamente os sistemas de saúde”, disse Abdon.

Professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o infectologista integra o gabinete de situação criado pelo Governo do Estado com objetivo de formular ações para conter o avanço da doença.

Em entrevista à rádio Mega FM na última quinta-feira (2), Abdon explicou que quando se fala em colapso no sistema de saúde inclui desde a falta de leitos e equipamentos, o que gera um impacto muito grande nas medicações.

“O Brasil tem uma rede grande de terapia intensiva, uma das maiores do mundo em quantidade de leitos. O uso de medicamentos básicos para lidar com pacientes mais graves acaba se esgotando. Sedativos, drogas vasoativas, antibióticos começam se esgotar”, admitiu.

“É muito difícil conseguir prever esse consumo tão grande que acontece abruptamente quando pacientes começam a internar nos hospitais. Os estados estão trocando, revezando drogas para poder não colapsar totalmente o uso da medicação”, emendou.

Pico de doentes

Ainda durante a entrevista, o médico afirmou que em, em razão da velocidade muito alta de contaminação da Covid-19, o número de casos aumenta muito e, proporcionalmente, aumenta a quantidade de doentes graves.

“Os doentes graves se acumulam rapidamente em um curto espaço de tempo. Quase que a totalidade de doentes graves que vai aparecer no pico da pandemia, vai internar quase ao mesmo tempo. E há um tempo de internação prolongado, entre 15 a 30 dias. Quando começa a internar pacientes, não consegue dar alta e aí vai piorando a ocupação de leitos”, disse.

Um dos reflexos disso, conforme o infectologista, pode ser observado nos números que mostram a necessidade de ventilação mecânica entre pacientes internados antes e depois da pandemia do novo coronavírus.

“Antes as UTIs tinham por volta de 10% a 20% dos pacientes precisando de intubação. Hoje, com a Covid, esse percentual saltou para 70% a 80%. E isso, quer dizer de 4 a 5 vezes mais consumo de medicamentos entre esses pacientes”, concluiu.

 

 

Texto: Mídia News