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Duas décadas após assassinato, júri popular absolve empresário

O empresário Josino Guimarães foi absolvido da acusação de ter sido o mandante do assassinato do juiz Leopoldino Marques do Amaral. ocorrido em 1999. A decisão do júri popular saiu na noite desta quarta-feira (23) depois de três dias de julgamento.

O conselho de setença entendeu que não concorreu para o crime e o absolveu por decisão soberana. O Ministério Público Federal, que foi o responsável pela acusação, já anunciou que não vai mais recorrer do caso.

Este é segundo julgamento que Josino enfrentou pelo caso. No primeiro, que ocorreu em 2011, ele foi absolvido, mas a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) anulou sua absolvição e determinou um novo julgamento, em 2014.

Conduzido pelo juiz Paulo Cézar Alves Sodré, o julgamento começou na manhã de segunda-feira (21), dia reservado para as oitivas das testemunhas de defesa e acusação.

Entre os depoentes, estava o secretário de Segurança Pública Alexandre Bustamante, que atuou na investigação do caso à época em que era agente da Polícia Federal.

O segundo dia, terça-feira (22), foi marcado pelo depoimento de Josino Guimarães. O empresário se disse inocente e chorou por diversas vezes em frente ao júri, ao relembrar dos dias em que passou na prisão.

“Eu nunca cometi esse crime, nunca vendi sentença, nunca estive com essas pessoas que me acusaram. Só quero passar o resto da minha vida em paz”, disse.

O terceiro e último foi reservado para o debate entre acusação, feita pelo procurado da república Fabrício Carrer, do Ministério Público Federal, e defesa, com o advogado João Cunha.

A acusação sustentou que Josino tinha interesse na morte do magistrado, pois meses antes havia sido apontado por Leopoldino como corretor de sentenças no Tribunal de Justiça.

"Eu não tenho dúvida nenhuma que Josino foi o mandante. Todos esses elementos mostram que ele assassinou por meio de um matador o juiz Lepoldino. O preço da cabeça de um magistrado custa caro e só poderia ser pago por alguém com poderio, e Josino tinha plenas condições econômicas para pagar pela morte", disse.

A defesa se apegou à ausência de provas testemunhais que ligassem Josino ao assassinato de Leopoldino. De acordo com o advogado, o caso é “uma grande mentira”.

"É preciso haver testemunhas melhores que esses bandidos. Melhores do que a Beatriz [condenada pelo caso]. É preciso ter mais provas dessa denúncia. Eu já vi denúncia mais eficiente. Isso é uma fofoca, um amontoado de mentiras", completou.

O caso

 

Em 1999, Leopoldino, então titular da Vara de Família de Cuiabá, foi investigado pela Corregedoria do Tribunal de Justiça por suspeita de desvio de recursos de depósitos judiciais e falsificação de alvarás.

Após publicidade dessas acusações, Leopoldino escreveu uma carta-denúncia e acusou desembargadores de venda de sentenças, nepotismo e outros esquemas, e afirmou que Josino fazia a intermediação entre magistrados e partes. 

Tempos depois da denúncia, o magistrado saiu em viagem com destino a Concepción, no Paraguai. Em sua companhia estavam a ex-escrevente do Fórum de Cuiabá, Beatriz Árias, o tio dela Marcos Peralta, que dirigia o carro.

Dois dias depois, um corpo com perfurações na cabeça foi encontrado carbonizado em uma estrada vicinal da cidade paraguaia, e os documentos de Leopoldino ao lado do cadáver. Exames de arcada dentária feitos no país vizinho e no Brasil comprovaram que o corpo era mesmo do magistrado.

Beatriz foi presa e apontada como coautora do homicídio. Durante as investigações, ela chegou a dizer que foi o tio quem fez os disparos contra Leopoldino.

Ela foi condenada a 12 anos de prisão, em 2001, pelo Tribunal do Júri da Justiça Federal. Depois de cumprir dois terços da pena, conseguiu o livramento condicional e deixou o Presídio Feminino Ana Maria do Couto. 

Seu tio, apontado como o executor do crime, chegou a ser preso no Paraguai mas nunca foi julgado. Ele morreu em 2005 por complicações da diabetes.

Nenhum desembargador citado na carta-denúncia de Leopoldino foi investigado pelo assassinato.