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Junho Vermelho: Doação de sangue, mitos e verdades

Junho é o mês de conscientização sobre doação de sangue, campanha que tem o objetivo de estimular as pessoas a se voluntariarem como doadoras. Atualmente são coletadas no Brasil cerca de 3,6 milhões de bolsas por ano, o que corresponde ao índice de 1,8% da população de doadores.

Como forma de ampliar esse número, o Ministério da Saúde (MS) reduziu a idade mínima de 18 para 16 anos (com autorização do responsável) e aumentou de 67 para 69 anos a idade máxima para doação de sangue no país.

Mesmo com a união de esforços, doar sangue ainda é um tema cercado por mitos e temores. No bate papo a seguir, a médica Maria Goretti Massuda, hematologista da Oncomed-MT e que trabalha há mais de 34 anos na área, traz importantes esclarecimentos e orientações.

Comunicação Oncomed: Doar sangue pode engrossar ou afinar o sangue?

Dra. Maria Goretti Massuda: É um mito. Você pode doar seu sangue tranquilamente. O processo que ocorre após a doação é que a medula óssea vai ser estimulada a repor o sangue retirado. A ação é saudável, importante e necessária, é o que te tornar um excelente doador. Após decorrer o prazo indicado, sendo três meses para mulheres e dois para homens, você já estará apto para realizar a próxima doação.

C.O.:Em relação às hepatites, quem teve pode doar sangue?

M.G.M.: As hepatites não são iguais. As do tipo B, C e algumas outras raras podem tornar o indivíduo definitivamente inapto para uma doação, mas a hepatite A, por exemplo, mais comuns quando crianças, ela não deixa sequelas e é plenamente curável. Então, se você teve hepatite A até os 10 ou 11 anos, você está perfeitamente apto a doar sangue.

C.O.: Pacientes que já trataram de um câncer podem doar sangue?

M.G.M: Depende. A maioria dos tipos de câncer são curáveis e o tratamento pode ou não deixar sequelas. Dependendo do tipo de sequela, ou se houve quimioterapia ou sessões de radioterapia mais extensas, não é indicado doar, pois a quantidade de sangue no organismo vai estar afetada em função do tratamento. Mas uma mulher, por exemplo, que fez um tratamento cirúrgico de câncer de colo de útero ou um câncer de pele, pode perfeitamente ser uma doadora, porque a cirurgia não afeta a medula óssea. Cada caso deve ser avaliado pelo médico.

C.O.: Mulheres podem doar sangue no período menstrual?

M.G.M: A menstruação não é igual para todas as mulheres, algumas têm uma perda sanguínea pequena e outras, maior. As mulheres que possuem uma perda sanguínea mais intensa, muitas vezes não conseguem doar sangue porque não tem um nível de hemoglobina em uma faixa que seja interessante para a doação. Agora se você não tem uma perda significativa ou uma anemia decorrente da menstruação, você está habilitada a doar antes, durante e preferencialmente depois do período menstrual.

C.O.: Após a primeira doação, a pessoa tem que doar sempre?

M.G.M: Não. Doar sangue é um ato de amor e é espontâneo. Ninguém é obrigado a doar sempre, mas vai se sentir tão bem que é pouco provável que vá querer doar apenas uma vez. Tem o lado subjetivo de fazer o bem ao próximo, mas você também vai perceber que faz bem para o corpo, estimula a medula a se renovar, a produzir um sangue novo. Quem doa só tem a ganhar.

C.O.: Existem fatores de risco à doação de sangue?

MGM: Existem duas situações que impedem uma pessoa de doar sangue: quando a doação é risco para quem vai receber ou quando é para quem vai doar. As pessoas que têm doenças autoimunes que estejam fora do tratamento podem doar sangue, contanto que elas estejam dentro dos parâmetros de doador. O que acontece muitas vezes é que as pessoas que tiveram lúpus, artrite reumatoide ou outras doenças do tipo que estão inativas têm sua produção de sangue afetada e não possuem sangue suficiente para realizar a doação, mas não exclusivamente por conta da doença. Se esses pacientes não estiverem tomando medicação é possível doar sangue, caso contrário não é recomendável porque esses medicamentos podem ter uma atuação indesejada sobre quem vai receber a transfusão. Há outros casos em que há o desejo de doar, mas algumas questões torna a pessoa inapta,porque a doação a coloca em risco, como um problema cardíaco, por exemplo, que o organismo não tolera uma diminuição de volume sanguíneo.

C.O.: No que se refere à Covid-19, há alguma restrição à doação de sangue?

M.G.M.: As últimas orientações do Ministério da Saúde são que as pessoas que tenham tido covid ou que tiveram contato com quem teve, que tiveram sintomas leves, cumprido o prazo de isolamento, podem doar sangue após dez dias. A gente sempre recomenda que as pessoas estejam bem de saúde para realizar a doação. Com relação a vacinação, quem recebeu a vacina da Coronavac, que possui uma tecnologia específica, deve aguardar pelo menos 48 horas antes de procurar um banco de sangue para doar, já as outras vacinas como a da Jansen, Pfizer e Astrazeneca o prazo recomendado são de sete dias após a vacina.

C.O.: Onde é possível doar sangue de forma segura?

M.G.M: Existem bancos de sangue públicos e privados. Todos prestam serviços inestimáveis para a sociedade. Os bancos de sangue públicos geralmente atendem, quase que exclusivamente, o Sistema Único de Saúde (SUS). Os privados complementam esse atendimento e prestam serviços às instituições particulares que atendam pacientes de convênios. Todos eles merecem ter seus doadores.