Uma enfermeira de Cuiabá tem vivido um pesadelo nos últimos três meses com o rapto da filha de 8 anos. Sem o consentimento da mãe, a criança foi levada para o interior de São Paulo pelo próprio pai, com quem tem a guarda compartilhada da menina.
Marina Pedroso Ardevino está há mais de 10 dias em Bauru (SP), onde o ex mora, à procura da filha, cujo paradeiro ainda é um mistério. Sem contato com ela durante todo esse tempo, a enfermeira foi tomada pelo desespero.
O ex-marido, o advogado J.V.A.P.A. e a mãe dele foram alvos de mandados de busca e apreensão na quinta-feira (23). A mulher chegou a ser presa por desacato e na delegacia se recusou a dar informações sobre o paradeiro da criança.
Essa, no entanto, não seria a primeira vez que Marina é privada do contato com a filha. Com o regime de guarda compartilhada desde 2017 com o ex-marido, ela já teria passado por sufocos parecidos a esse outras cinco vezes, três delas somente este ano.
Nas últimas duas situações Marina acionou o Poder Judiciário. A filha foi devolvida por meio de mandados de busca e apreensão, o que evitou que o ex fosse preso.
Devido à recorrência desse comportamento, a enfermeira procurou o Poder Judiciário, solicitando a revisão da guarda compartilhada, além de uma ação declaratória de alienação parental e uma de proteção da menor.
A ação tramita na 5ª Vara Especializada de Família e Sucessões da Comarca de Cuiabá. A Justiça emitiu a decisão, ainda em julho, informando que iria analisar a suspensão da convivência após a realização do estudo psicossocial, que ainda não foi feito.
Como o processo estava em andamento, Marina acreditou que o ex não a privaria do contato com a filha novamente, mas ela estava enganada.
Segundo a enfermeira, a filha teria manifestado o temor de não ser mais entregue à mãe, dizendo: “Mamãe, o papai não vai me trazer de volta, não deixa eu ir”.
A filha ainda teria dito a Marina que sempre que está com o pai é impedida de falar com ela, todas as vezes com alguma desculpa diferente: “Estão ocupados”, “sem telefone”, etc.
O sumiço
Durante as férias escolares da menor, o pai - que mora em Bauru - veio para Cuiabá passar cinco dias com a filha. Ele teria pego a criança no dia 13 de julho e deveria entregá-la para a mãe no dia 18. Mas isso não aconteceu.
Antes mesmo de ficar oficialmente com a filha nesse período, ele teria chegado na cidade sem avisar e ido direto para a escola da menor. “Parece que eu estava sentindo algo, não mandei ela pra escola naquele dia”, diz Marina.
Como ambos dividem a guarda, J.V.A.P.A. conseguiu o direito de ficar com a filha durante esse período, mas ao invés de entregar a menor para a mãe no fim dele, levou-a para São Paulo.
A prisão
J.V. A.P. A. foi encontrado na quinta-feira (23) dentro do seu apartamento em Bauru, onde foi intimado da ordem de busca e apreensão. Já a sua mãe foi detida na rodoviária de Piratininga (SP), por desacato.
Conforme o boletim de ocorrência, a mulher foi presa em seu veículo - uma VW Taos - enquanto retornava para Bauru vinda de Ourinhos.
Aos policiais, ela disse que sabia do mandado de busca e apreensão, no entanto, não o cumpriria. A mulher disse ainda que havia entregado a neta para uma irmã, na fronteira do Estado. A menina teria sido levada para Balneário Camboriú (SC).
Após os policiais solicitarem o seu celular, a mulher teria agredido a equipe com socos, tapas e chutes.
Conforme o boletim de ocorrência, a mãe de J.V.A.P.A. se recusou a colaborar com a Polícia e não entregou nenhum dado sobre o possível paradeiro da menor.
O MidiaNews teve acesso às imagens das câmeras de segurança do hotel em que a mulher estava hospedada. Nelas aparece a criança, pouco tempo antes de supostamente ser entregue na fronteira do estado.
Relação conturbada
Marina conta que o relacionamento com J.V.A.P.A. sempre foi conturbado. O casal terminou quando ela estava com apenas dois meses de gestação. Durante o período de gravidez, segundo a enfermeira, o ex teria sido ausente, não se envolvendo em momento algum.
A situação teria mudado um dia antes da criança nascer. Por meio de uma ligação, recorda a enfermeira, J.V. A.P.A. manifestou interesse em assistir o parto. Relutante, sem compreender a mudança repentina de comportamento, após muita insistência, Marina permitiu.
“Aquele momento que era para ser meu, meu com a minha filha, foi um pesadelo”, conta.
Desde os primeiros dias de vida da pequena menina, a enfermeira diz que J.V.A.P.A. teria a pressionado para levá-la para sua casa sem a presença da mãe. Pela pouca idade da filha, Marina se recusou.
Quando a criança tinha apenas um ano de vida, J.V.A.P.A. entrou pela primeira vez na Justiça, no intuito de ficar com a guarda da menor. De lá para cá o embate não teve fim.
Segundo ela, o comportamento agressivo do ex a motivou a buscar uma medida protetiva contra ele. Ao longo desses anos de convivência ela diz que sofreu "abusos psicológicos severos", que inclusive a obrigaram a buscar ajuda profissional.
“Eu dirijo olhando o retrovisor, sempre acho que estou sendo seguida”, conta. “Eu tenho medo da família dele em Cuiabá, porque eles são muito conhecidos”, complementa.