Geral

Médico relata o dia a dia da linha de frente na luta contra a covid-19: "aterrorizante"

Aterrorizante. É assim que o médico Henedy de Freitas se refere à experiência que viveu no início da pandemia. O profissional foi o primeiro médico a ir para a linha de frente em 2020 quando os primeiros pacientes com suspeita de covid-19 surgiram. “O local onde trabalhava era de referência para a região; então recebíamos muitos pacientes e eu fazia a avaliação inicial de todos”, relata. É desse período, o do início da luta contra o inimigo misterioso que Henedy lembra como o de um cenário de filme de ficção mesclado ao clima de medo. Uma guerra biológica.

 “Estávamos lá, mas não tínhamos equipamentos suficientes, ou medicação ou um protocolo claro de como agir e diante de todo o quadro de falta de leitos de UTIs, perdemos pacientes. Eram pessoas com sonhos, com famílias, gente cheia de projetos; não foram e nunca serão números para mim”, frisa.

Por trás da roupa especial, das máscaras e do face shield, o médico vivia a agonia dos pacientes e das famílias. “Vi muita gente morrendo, me senti impotente diante do desconhecido. O enfrentamento à primeira onda, quando não tínhamos noção clara em relação contra o que estávamos lutando, me marcou muito”, conta.

Diante do quadro que uniu a comunidade cientifica na busca por um medicamento e na elaboração de uma vacina em tempo recorde, Henedy detalha que de uma forma geral o alívio chegou com o investimento em recursos como equipamentos e compra de remédios. O médico lembra que no início o Município tinha dinheiro em caixa, buscava adquirir suprimentos, mas não havia medicação e equipamentos disponíveis para aquisição. “Tudo era difícil e estávamos diante de um inimigo desconhecido”, destaca.

“Quando os hospitais de campanha, as UTIs Covid começaram a ser montados, começamos a trabalhar com mais esperança. No caso de Sorriso, temos um Hospital Municipal de Campanha que atua 24 horas por dia, que nunca fechou desde a abertura em 11 de maio de 2020”, detalha. Com o trabalho realizado no local e as UTIs montadas, Henedy ressalta que “os casos graves continuam chegando a toda hora, mas agora temos como ofertar um tratamento adequado e estamos conseguindo salvar mais vidas”.

O médico atua no HMC de Sorriso desde o dia da abertura. Em plantões de 12X36 horas, Henedy se reveza com os colegas na análise de cada paciente; a tensão de acompanhar transferências para outras unidades, dentro de uma ambulância também lhe é familiar. “Buscamos fazer o melhor em cada caso”, diz. Desde fevereiro a responsabilidade é ainda maior. Foi quando Henedy assumiu a direção clínica do espaço. “No HMC o compromisso de toda a equipe é oferecer atendimento humanizado, conforto ao paciente, aos familiares e salvar vidas”, frisa. O Hospital Municipal já realizou mais de 75 mil atendimentos com mais de mil internações no período.

E enquanto não há imunidade em massa, Henedy faz um alerta. “O vírus continua em circulação, ele apresenta uma mutação rápida; então o correto é mantermos as precauções, independente de ter sido imunizado com dose única ou com as duas doses ou de já ter contraído a doença, pois enquanto a população inteira não for imunizada sempre haverá casos graves”, pontua.