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Polícia conclui que R$ 4,6 milhões que estavam em avião que fez pouso forçado no Nortão era de negócio ilícito de ouro

A Delegacia de Alta Floresta concluiu o inquérito que apurou o pouso forçado de um Cessna na área rural, em junho de 2019, que transportava R$ 4,679 milhões e era pilotada por um homem de nacionalidade italiana. Ele e dois empresários em São Paulo e Minas Gerais foram indiciados pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e falsidade ideológica. Seus nomes não foram divulgados. O procedimento e o relatório final foram encaminhados para o Ministério Público e ao Poder Judiciário.

“As investigações apontaram que os indiciados se uniram para dissimular, reiteradamente, valores de origem ilícita e fizeram uma declaração falsa, em um documento particular, com o objetivo de alterar a verdade sobre o dinheiro apreendido. Interrogados, os indiciados apresentaram diversas contradições em suas versões e foram desmentidos pelas testemunhas ouvidas. A equipe de investigação analisou os aparelhos eletrônicos apreendidos e foi possível perceber que os indiciados conversavam diversas vezes sobre a compra e venda de ouro, sem nota, sempre se referindo a grandes quantidades, além de mostrar interesse em sempre conversar pessoalmente e apagar as conversas, por receio de monitoramento”, informa a Polícia Civil.

Foram encontradas conversas entre o piloto e um empresário mato-grossense, denunciado no ano passado pelo Ministério Público Federal por comprar ouro ilícito, proveniente de garimpos ilegais no sul do Pará e no Nortão e exportar para a Itália.

Outra conversa analisada pela equipe da Delegacia de Alta Floresta, flagrou os envolvidos com medo da abordagem policial após a queda do avião e o empresário paulista sugeriu ao piloto falar com um empresário com negócios no ramo do ouro para pegar um comprovante do dinheiro. O empresário foi preso, ano passado, pela Polícia Federal por comprar ouro de garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, e nas terras indígenas Munduruku e Kayapó, no Pará. Em um ano, a empresa desse empresário chegou a movimentar mais de R$ 2 bilhões com a venda de ouro.

A Polícia Civil de Mato Grosso teve apoio do Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil de Mato Grosso e dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) e identificou elevada movimentação em espécie e de forma fragmentada, forma utilizada para burlar o sistema de identificação do real depositante/sacador e o valor total da movimentação.

O delegado André Victor de Oliveira Leite explica que foi ainda identificado um alto fluxo financeiro com empresas que apresentaram características de negócios de fachada, sem empregados registrados, constituídas com capital social elevado, cadastradas em endereços iguais e incompatíveis com a capacidade econômica-financeira do registro da empresa.

Relembre o caso:
O Cesnna decolou de Sorocaba (SP) com destino a Itaituba (PA) e faria  duas paradas para abastecimento, uma em Jataí (GO) e outra em Alta Floresta, mas teve problemas em Jataí, mas mesmo assim o piloto decidiu seguir a viagem. Em Alta Floresta, precisou fazer o pouso forçado em uma área de pastagem, aberta. Quando policiais chegaram não havia ninguém, nem bagagem. O dinheiro estava em seis malas com o piloto, que estava em um táxi quando foi abordado pela Polícia Civil. Ele disse que morava no Brasil há mais de 30 anos e inicialmente não soube explicar a origem do dinheiro, mas depois alegou na delegacia que o valor era proveniente da venda de um avião em São Paulo, de sociedade com um parceiro de negócio.

A aeronave e os R$ 4.6 milhões foram apreendidos pela Polícia Civil. O dono conseguiu na Justiça a restituição do Cesnna mas o dinheiro continuam bloqueado, sendo que os envolvidos tentaram até a última instância judicial a devolução, informa a Polícia Civil.

 

Só Notícias (foto: assessoria/arquivo)