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Psicóloga alerta para surto de transtornos e depressão infantil na pandemia

Foto: Cenário MT

O advento da pandemia do novo coronavírus trouxe à tona uma preocupação até então pouco, ou quase nunca, percebida, porém, de extrema necessidade de atenção, cuidado e tratamento. Crianças e adolescentes têm desenvolvido transtornos psicológicos graves, como por exemplo, a depressão.

Há de se definir que é comum usarmos o termo ‘depressão’ para designar uma pessoa que está momentaneamente com o ‘humor em queda’ por uma decepção, seja causada por uma doença, relacionamentos, perdas, entre outros, porém, que após alguns dias vai se entender com aquela situação, se recuperar e voltar a viver normalmente.

No entanto, a patologia ‘depressão’ ou ‘depressão maior’, se caracteriza por sentimentos difusos, desconhecidos, que a própria pessoa que sofre não entende e geralmente acompanhado de auto aversão e sensação de inutilidade, vazio, falta de interesse geral, tristeza profunda, sem motivo e se mantém por pelo menos duas semanas, período em que o paciente tem vontade de passar todo o tempo na cama.

Ainda não há muitos estudos concluídos sobre as causas da manifestação de depressão em crianças, no entanto, não difere muito do que já é conhecido quando se trata da doença em adultos.

No entanto, acredita-se que existe uma questão de fatores de risco para que crianças e adolescentes desenvolvam o transtorno, entre eles: genética e as interações com as situações da vida como o comportamento diante de privações ou perdas.

Assim chegamos à pandemia do novo coronavírus, uma nova doença, até então sem tratamento, provocando isolamento social há mais de um ano e só agora com vacinas chegando ao mercado de forma racionada e que ainda vai demandar tempo para que as medidas de prevenção sejam deixadas de lado.

Este período obrigou crianças e adolescentes se adaptarem a uma nova realidade, porém, sem a maturidade para compreender a real necessidade de todo esse movimento, porém, com sentimento de insegurança e medo da covid-19 ou do ‘corona’, como muitos falam.

Todos esses sentimentos confusos podem ser somatizados junto à proibição de interação social, às vezes percebida como uma perda da vida como estavam acostumados e ao se verem ‘presos’, ainda sem entender muito bem o porquê é o caminho para crises de ansiedade e portas para uma possível depressão.

A Thaísa Mayara Gomes, da Clínica Selfiquê – soluções em psicologia, deu um panorama amplo desse momento vivido em Cuiabá, uma vez, que teve uma demanda maior de pacientes crianças e adolescentes nesse pouco mais de um ano de pandemia.

Como os fatos que desencadeiam medos e inseguranças nas crianças e adolescentes tem ligação direta com seu meio de convivência, Thaísa usou o exemplo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para demonstrar como os pacientes chegavam no consultório.

“O Enem é um período de instabilidade emocional para os adolescentes, agravado pelo período atípico que estamos vivendo desse o ano passado com aulas remotas, sendo uma porcentagem mínima de alunos, em sua maioria da classe média, que conseguiu assistir às aulas à distância em contraponto com estudantes com maiores dificuldades sociais, que não tiveram a mesma oportunidade e estudaram sozinhos, mas que tiveram que concorrer normalmente com todos os outros, independente das oportunidades ou da falta delas. Atendi muitos pacientes com crises recorrentes de ansiedade ou já com quadro de depressão pensando em desistir da prova por se sentirem despreparados ou por medo de trazer a covid para seus familiares. Uma mistura de sentimentos confusos, os quais não sabiam lidar”, exemplificou.

Sintomas e prevenções

Thaísa explicou que os pais devem estar muito atentos ao comportamento dos filhos, independente da idade, sem negligenciar o comportamento como “coisa da idade” ou alterações de personalidade como timidez, irritabilidade, mau humor, agressividade, tristeza sem motivo ou qualquer comportamento que ligue um ‘alerta’.

A psicóloga apontou que é extremamente importante que os pais ou responsáveis estejam sempre próximo dos filhos, que conversem com eles, conheçam a rotina e procure ajuda profissional caso enxerguem qualquer desvio de comportamento, conforme explicado.

Diagnóstico

“O diagnóstico normalmente é feito através de testes realizados pelo médico, quando se trata de adolescentes, e ainda análise de desenhos quando crianças, pois, os pequenos, na maioria dos casos, não conseguem expor seu sentimento de tristeza ou depressão”, explicou Thaísa.

A profissional acrescentou que o diagnóstico da doença não é fácil, especialmente porque pode ser confundido com outras patologias. Desta forma, se for identificada uma mudança significativa no comportamento da criança, como chorar constantemente, ficar muito irritada ou perder peso sem razão aparente, o ideal é procurar um pediatra para que seja avaliada a hipótese de estar passando por uma alteração psicológica.

Como lidar com crianças e adolescentes com quadro de depressão

Thaísa disse que o mais importante é respeitar os sentimentos e mostrar que compreendem o momento que estão atravessando.

Outras ações importantes são incentivar a desenvolver atividades que gosta sem causar pressão; elogiar constantemente todos os pequenos atos e não corrigir a criança ou o adolescente na frente de outras crianças; não deixar brincar sozinha, nem ficar no quarto isolado vendo televisão ou jogando videogames; incentivar a comer de 3 em 3 horas para se manter nutrida; manter o quarto confortável para ajudar à criança a dormir bem.

Após a pandemia, em uma realidade social comum, levar a criança para brincar com outras crianças e incentivar maior interação social aos adolescentes.

“Estas estratégias vão ajudar a criança e o adolescente a ganhar confiança, evitar o isolamento e melhorar a autoestima, contribuindo para recuperação de forma mais rápida do quadro de depressão”, afirmou a psicóloga.