Saúde

Remédio some de drogarias; paciente cita "desespero"

Foto: Mídia News

Há pelo menos dois meses as drogarias de Cuiabá estão sem estoque da hidroxicloroquina. Essa escassez prejudica pessoas que fazem uso do medicamento, que é eficaz para pacientes com doenças autoimunes, como o lúpus, por exemplo.

Desde quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou que a medicação era eficaz no combate ao coronavírus – o que ainda não foi comprovado cientificamente -, a corrida pela “cloroquina” fez o produto desaparecer das farmácias.

Ao consultar duas grandes redes de farmácias da Capital, a reportagem foi informada de que nenhuma drogaria estava recebendo a hidroxicloroquina há cerca de três meses.

A justificativa é de que o Governo Federal firmou uma parceria com os laboratórios que produzem o medicamento para distribuir aos hospitais para tratar casos de Covid.

A servidora pública Olívia Campos, que é portadora de lúpus há 16 anos, depende desse medicamento para controlar a doença e está desesperada, pois não consegue encontrá-lo para o seu tratamento há dois meses.

"A gente fica desesperada. Ligo em todas as farmácias e a resposta é a mesma, de que não tem e não vai chegar".

Para ela, a decisão do Governo de reter o medicamento para o tratamento de coronavírus prejudica outros pacientes com outras enfermidades. Segundo a servidora, isso demonstra que o Governo não tem empatia com os portadores de lúpus.

"Claramente o Governo não tem compaixão com a gente. Nós estamos sendo deixados de lado para tratar somente quem tem coronavírus", afirmou Olívia.

Após não encontrar a hidroxicloroquina em pelo menos 10 farmácias de Cuiabá, a jornalista Sandra Amorim ficou preocupada com ela e seus colegas que precisam do medicamento para controlar o lúpus.

Segundo ela, o problema começou há cerca de dois meses, após o início da pandemia de Covid-19.

“Conversando com outras pessoas que têm lúpus, eles também relataram que já tinha pelo menos dois meses que não encontravam o medicamento. Não sabia que estava essa correria toda, só fui saber na semana passada, quando fiz esse levantamento para ver se tinha”, afirmou.

  Sandra convive com a doença há seis anos e disse que nunca viu ou sequer soube de histórias de falta da substância no mercado.

“Nós nunca passamos por uma coisa dessas de faltar”, relatou a jornalista.

Ela explicou que pacientes com lúpus também fazem parte do grupo de risco, pois precisam manter a imunidade baixa para controlar a doença.

“O nosso sistema de defesa ataca o que é ruim, mas também ataca as células boas. O lúpus é assim. O sistema não consegue distinguir o que está no organismo. Então a gente fica sem defesa. Temos que deixar nossa imunidade baixa”.

Sem a medicação, o perigo de sofrer com quadro agravado de coronavírus aumenta, sem falar nas consequências que o próprio lúpus causa no paciente.

“Sem o remédio, começa a dar muita dor no corpo, muita fadiga. No meu caso, eu tomo vários remédios, mas ele é o base”, relatou.

De acordo com Olívia, o medicamento varia entre R$ 80 a R$ 100 nas drogarias e cerca de 70% dos pacientes com lúpus precisam da hidroxicloroquina.

Além de lúpus, a hidroxicloroquina também serve de tratamento para outras doenças como malária, artrite reumatoide e porfiria cutânea tarda.

Texto: Mídia News