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Sem salários, médicos deixam de receber pacientes em UTI Covid

Um grupo de médicos que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Covid-19 do Hospital Municipal São Benedito suspendeu o atendimento de novos pacientes em razão do atraso no pagamento dos salários.

Desde terça-feira (31) eles informaram que, em razão deste atraso, paralisariam seus serviços, mantendo apenas a assistência aos pacientes que já estão internados na UTI.

Segundo apurou a reportagem, os profissionais são contratados da empresa Hipermed Serviços Médicos e Hospitalares e estão sem receber os salários de julho e agosto. 

A empresa é uma das investigadas na Operação Curare, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no dia 30 de julho.

A Hipermed é acusada de participar de um esquema de fraude na Secretaria Municipal de Saúde, que consiste na contratação emergencial de prestadoras de serviço em desacordo com a Lei de Licitações. Segundo a PF, a empresa recebeu R$ 11 milhões da Prefeitura de Cuiabá.

Um dos profissionais - que preferiu não se identificar temendo represália - contou que ele e os colegas estavam sem receber desde junho. Porém, após pressionar o diretor da Hipermed, conseguiram receber o valor referente ao mês no dia 15 de agosto.

Desde então, a empresa já teria prometido duas datas para realizar o pagamento do mês de julho e agosto, porém até o momento os plantonistas não receberam nada.

Segundo o médico, a Hipermed afirmou que o motivo do atraso era a falta de repasse por parte da Empresa Cuiabana de Saúde Pública, que administra o Hospital São Benedito e também foi alvo da operação da Polícia Federal.

A notificação à empresa reuniu mais de dez plantonistas do hospital. Com o auxílio de um advogado, os profissionais redigiram uma carta que foi assinada e encaminhada ao diretor da Hipermed.

“Em caso de descumprimento do pagamento requerido, desde já os notificantes [médicos] informam que irão interromper a prestação dos serviços oferecidos em 30 dias [...] devendo a notificada [Hipermed] buscar novos profissionais para prestação de serviço”, diz trecho do documento.

Após o descumprimento do último prazo estabelecido pela empresa, nesta terça, os médicos afirmam que não estão conseguindo entrar em contato com os responsáveis da Hipermed e nem com a equipe do setor financeiro.

Com uma carga horária semanal de cerca de 100 horas, os médicos dizem se sentir “desamparados” diante do atraso salarial, somado com o acúmulo de trabalho na UTI da Covid-19, já que nem todos os profissionais querem atuar nesta área pelo risco de contaminação.

“A gente fica com uma equipe bem reduzida e uma carga horária muito grande, isso deixa a gente exausto. E ainda junta toda essa questão de atraso nos pagamentos e a falta de consideração da empresa”, explica um dos médicos que não quis se identificar.

Confira nota da Hipermed:

A Hipermed Serviços Médicos & Hospitalares esclarece e tranquiliza os médicos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal São Benedito, que honrará com suas obrigações e que eles podem ter a certeza de que não ficarão em prejuízo, tendo em vista que sempre foram tratados com respeito profissional e responsabilidade gerencial.

Após tratativas com a Empresa Cuiabana, vinculada à Prefeitura de Cuiabá, e que faz o repasse à Hipermed do valor a ser pago aos médicos, o repasse será realizado até o dia 8 setembro, ocasião em que serão quitados os honorários referentes ao mês de julho deste ano.

É importante ressaltar ainda que a Hipermed tem um prazo de 30 dias, estabelecido entre as partes, após o mês de execução dos serviços para pagar os honorários médicos, entendimento, inclusive, de conhecimento da categoria. Dessa forma, o salário de agosto não encontra-se vencido e será quitado até o dia 25 de setembro.