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Detentas de MT usam miolo de pão e toalhas no período menstrual

Passar pelo período menstrual já não é muito fácil, mas enfrentar esse período sem ter acesso a absorventes é pior ainda. Essa é a realidade de muitas presas da Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Cuiabá. Para substituir o produto, vale improvisar com os materiais que se tem na mão: toalhas cortadas, pedaços de pano e até miolo de pão - que é guardado das refeições.

Essa situação, que ficou conhecida como pobreza menstrual faz parte da realidade de algumas mulheres que passam pela ressocialização no Estado. O termo francês se refere à falta de acesso a itens básicos de higiene durante a menstruação, seja por falta de informação ou dinheiro.

Ao receber os relatos de humilhação pela qual as mulheres em ressocialização passavam, a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso (OAB-MT) decidiu mobilizar esforços para dar dignidade à essas mulheres. Apenas em 2021 foram doadas 22 mil unidades de absorventes descartáveis.

"Desde 2019 realizamos essa campanha, sempre em agosto. Faz parte dos direitos sociais, de dar dignidade às mulheres. É um item básico de higiene, mas que não costumamos pensar. O Estado oferece, mas é uma quantidade que não dá para o ano todo. Então pensamos em como ajudar", explica a conselheira estadual da OAB e membro da Comissão da Mulher Advogada, Gabriela de Souza Correia.

Uma mulher fica, em média, de 3 a 5 dias menstruada. Mas como passar por esse período de maneira improvisada? A falta desse item pode prejudicar estudos e até o trabalho que muitas detentas fazem fora da penitenciária.

"Chegou ao nosso conhecimento que elas usavam paninhos e como as condições de higiene não eram muito boas, acabavam gerando muitas doenças. Outras chegaram a nos falar que guardavam o miolo do pão para usar como absorvente. E isso era algo corriqueiro", lembra a advogada.

Para Gabriela, com uma atitude simples, doar absorventes, é possível melhorar a vida de centenas de mulheres. "A gente vê nos olhos delas gratidão por nós termos olhado para elas, de ter se colocado no lugar delas. Muitos homens não têm a noção da importância de um absorvente e a nossa campanha também tem esse objetivo: conscientizar".

"Porque por mais que a gente saiba que a menstruação acontece, passa despercebido. O Estado é obrigado a fornecer, mas a gente não se preocupa se fornece de forma satisfatória. Com a campanha tentamos sensibilizar quem não consegue ver que é uma questão de dignidade da mulher", argumenta Correia.

Outro lado

Questionada pela reportagem sobre a falta de absorventes para as mulheres da penitenciária feminina, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) afirmou que não tem "nenhuma reclamação por falta de material em nossas unidades femininas" e que as penitenciárias recebem doações de absorventes e materiais de higiene da OAB, Conselhos da comunidade, igrejas e grupos voluntários.